Documentário sobre a trajetória do grupo de rap é sucesso na Netflix.
No vestibular de 2020, a UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas, colocou dentre as obras literárias o álbum "Sobrevivendo no Inferno", lançado em 1997 pelo grupo paulistano de rap Racionais MC’s. Composto por doze músicas, o álbum é marcado pela crítica social, política e racial de quem vive na periferia. Um olhar e muitas perspectivas do pobre, negro e enquadrado pela polícia às margens da sociedade elitizada.
Fundado em 1988, com mais de trinta anos de denúncias, Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay estreitaram no último dia 16, o documentário "Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo", na plataforma de streaming Netflix e já é um sucesso. Afinal, por que tanta fama aos pobres meninos bravos?
Do Capão para o mundo. Eles se conheceram no Capão Redondo, em São Paulo, quando era um campo aberto e pesado. Enquanto brincavam, viam corpos pelos cantos. Havia fome e sede, sede de justiça. Assim cresceram e hoje, sentados em volta de uma mesa, relembram a trajetória de mais de trinta anos - os acontecidos, entrevistas, músicas, lembranças boas e não tão boas. "A alma guarda o que a mente tenta esquecer".
Periferia. No Brasil, a periferia nomeia bairros, loteamentos e favelas distantes dos centros urbanos, e onde, por vezes, falta saneamento, falta água e energia elétrica. Falta dinheiro e sobra violência. Os Racionais cantam a voz do negro e do branco que batalha para viver com dignidade, fala do mundo das drogas, também fala da polícia, fala de perseguição e abuso de poder. Fala de briga e de morte.
É a voz do outro lado, o lado mais fraco. Que se tornou muito forte ao longo desses anos. "Não espere o futuro melhorar tua vida, porque o futuro é consequência do presente".
Ideologia. Interessante a visão de Mano Brown quando relata que o Racionais, por muito tempo, denunciou a vida na favela e a violência da polícia, com letras violentas e sangrentas, e, na metade do caminho, voltaram às origens para sentir a realidade. Pausa no Racionais, que havia se tornado o grupo de rap mais famoso do Brasil. A volta veio com um novo olhar - a periferia já não era submissa, ignorante e alienada. A periferia cresceu e tomou voz, e a música dos Racionais se voltou para os jovens de classe baixa como um incentivo para o estudo, para a profissionalização, para se tornar um bom ser humano e ter amor-próprio. As pessoas cresceram e progrediram com as palavras cantadas pelos Racionais, quase uma seita por tantos fãs. "Sempre fui sonhador, é isso que me mantem vivo".
O Rap. Nasceu do inglês "rhythm and poetry", ritmo e poesia. A música mescla um ritmo intenso com rimas poéticas. Nasceu na Jamaica, desenvolveu na classe pobre dos Estados Unidos. No Brasil, foi por volta de 1986, na periferia paulistana, que o ritmo tomou registro.
Racionais MC’s. Racionais é arte, cultura, política. Racionais é o candomblé. Racionais é a favela.
Racionais é ter vontade de bolacha recheada e Danette. Racionais é bebida, droga, violência.
Racionais é paz, é parceria, é companheirismo. É a voz do preto, pobre, marginalizado. É a voz daquele que mesmo não tendo feito nada de errado, levou a culpa - pela sua cor, pela sua condição, pela sua vida.
"Ei, irmão, nunca se esqueça: na guarda, guerreiro, levanta a cabeça".
Parabéns, Racionais MC’s. Aplausos em pé.