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Publicado em 28/01/2022


Quem sou eu pra falar de ti, grande Elza Soares.
A carne negra mais cara do mercado.

 (Foto por: @daryandornelles, retirada das redes sociais da artista)  
 
Quinta, vinte de janeiro, você se foi. E deixou pra traz uma legião de fãs estarrecidos com o timbre da sua voz. Com o timbre da sua personalidade.

Quem sou eu, branca classe média, para falar com a sua voz.

Começo a pesquisá-la, pois a necessidade de homenageá-la é muito grande. E conforme monto o quebra-cabeça da sua vida, cujas peças na maioria eu desconhecia, e começo a chorar.

Quem sou eu pra falar de teu casamento arranjado aos doze anos de idade, após esse teu primeiro homem tentar violentá-la e seus pais obrigá-lo a ficar com você. Quem sou eu que tenho dúvidas sobre o amor, perto de sua paixão por Garrincha.

Quem sou eu pra falar de dor, quando me deparo com a sua dor de perder quatro de seus oito filhos. Quem sou eu que não passo fome, saber o que é uma mãe perder um filho pequeno de fome.

Quem sou eu para falar de aceitação, perto de você, que numa apresentação no início de carreira, "ganhou" uma lâmina de barbear dentro do seu vestido, jogada por algum "bacana" e que você só sentiu quando viu o sangue do corte.

Quem sou eu para falar de vida difícil, vendo você, que se levantou tragédia após tragédia. Você não foi de carne e osso, você foi de tijolos. E se fez forte.

Sua fortaleza era vista nas suas denúncias, usando o que mais gostava de fazer: cantar. Não bastou a BBC te eleger em 1999 como a cantora do milênio, foi preciso denunciar e encorajar mulheres oprimidas e negras à uma vida digna.
Quem sou eu para falar de fé, perto de você, filha de Iansã. 

Quem sou eu para falar de evolução espiritual à você, que rodou o mundo acreditando e desacreditando de tudo, inclusive de si mesma. Mas você seguiu firme na sua missão, até seus noventa e um anos.

Quem sou eu, mulher branca, que nunca fui julgada pela minha cor. Nem rotulada nem desapreciada. Quem sou eu a bobinha que teme ser atacada no ponto ônibus, perto de você que se fez na favela.

Quem sou eu, brasileira como você, mas com um abismo nos separando. Você veio do planeta fome, escancarado na sua voz.

Quem sou eu, cheia de padrões, perto dos seus cabelos coloridos, suas roupas brilhantes e sua cara que me lembrava Tina Tuner em Mad Max. Aliás, as histórias de vocês são parecidas. Você foi a nossa Tina.

Quem sou eu, perto de você, Elza Soares, pobre menina negra, que se consagrou como uma das maiores vozes da música brasileira.

A sua carne você fez ter valor. 

Siga à luz. À sua luz.

Redação:

Silvia Delforno, psicanalista. 
"Ajudando você a viver de forma mais leve, com mais plenitude e realizações".
Sessões on-line e presencial.  
Informações: whatsapp - 11 971182440.

Foto: Daryan Dornelles retirada do perfil da artista no instagram







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