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Publicado em 27/01/2023
O amor é vendido nos objetos, na arte, na comida. O amor está presente em tudo. E consumidores não faltam.
Vende-se amor. Nas músicas. O amor é a pauta principal das músicas sertanejas, que se tornam pegajosas em nosso cérebro, pela repetição incansável do amor pela dor - o embaixador canta "E pra você eu sou insignificante, termina comigo antes". Já Djavan vende um amor adulto, porém sofrido - "Vem me fazer feliz porque eu te amo, você deságua em mim, e eu, oceano. Esqueço que amar é quase uma dor". Filipe Ret, o rapper, canta que "Mais uma vez tô aqui sem você... livre e triste. Até quando eu vou ter que fingir que eu tô feliz sem você do meu lado aqui?" Até o axé do Chiclete diz que "Não vou chorar, nem vou me arrepender. Foi eterno enquanto durou. Foi sincero nosso amor. Mas chegou ao fim". O sambista Diogo Nogueira cantou para Paola "Abri a janela, um raio de sol invadiu minha casa, um anjo sem asa, é ela".
Nas poesias. Drummond disse que "Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis". Mário Quintana recitou que "Amar é mudar a alma de casa". Já Neruda disse que "Te amo sem saber como, nem quando, nem onde, te amo diretamente sem problemas nem orgulho: assim te amo porque não sei amar de outra maneira". Clarice Lispector eternizou que "Mas há vida que é para ser intensamente vivida. Há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata".
Nas pichações. "Seu próximo amor não tem culpa do anterior" (o pichador era terapeuta, com certeza). "Eu ando tão sei lá sem você". "Se eu pudesse, te beijava até a alma". "Te odeio, com todo meu amor". "Amo você, porque não me amo".
Nos filmes e séries. A Netflix traz as séries "Bridgerton", "Emily em Paris", "Outlander", "Grey’s Anatomy", dentre muitas com amor e lágrimas. Entre os filmes, "Simplesmente acontece", "Táticas do amor", "Para todos os garotos que já amei", dentre muitos. Pegue seu lencinho, sua caixa de Bis e passe madrugada afora chorando o amor dos outros.
Nos objetos. Corações por toda parte. Vermelho e rosa enfatizando o sentimento: flores, bombons, perfume, lingerie, vinho - o amor é oferecido nas prateleiras, incentivando até os mais tímidos e desconfiados a mergulharem no sentimento que vai da calmaria à tempestade. Enfim, nos livros, nos Stories, nas fotos de duas taças, nas pantufas para casais, no bombom Sonho de Valsa. O amor invade a vida em cada esquina, sem pedir licença.
Se o amor é tão oferecido, a procura é grande. Se a procura é grande é porque o tema chama a atenção. Talvez o motivo seja que somos seres carentes, sedentos por um ombro pra encostar, uma boca para beijar, um corpo para amar, um sorriso para chamar de seu. Os românticos existem e eles são muitos.
Nada de errado em consumir o amor. Porém, deixo uma pergunta: o amor que tanto procuro e consumo, eu dou a mim mesmo? Ou estou me espelhando na história do outro o que não consigo me oferecer? E menos ainda compartilhar?
O amor acontece quando menos se espera e esse é o grande desafio aos sedentos pelo amor romântico.
Ou como diz minha sábia paciente já senhorinha, esse amor aí só sente quem não viveu junto.
Acaso o amor romântico dure até chegar a rotina.
Redação:
Silvia Delforno, psicanalista. "Ajudando você a viver de forma mais leve, com mais plenitude e realizações".
Sessões on-line e presencial. Informações: whatsapp - 11 971182440.
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