Escrita terapêutica

Publicado em 14/12/2022

Você consegue escrever sobre a sua vida? A escrita terapêutica pode ser uma aliada no tratamento da ansiedade.

Eu não estou preparado, a grana está curta, eu não me sinto bem falando da minha vida com um estranho... os motivos que levam uma pessoa a não procurar um profissional que possa conduzi-lo a se analisar são muitos, e as questões vão sendo empurradas e voltam com frequência, até serem observadas a fundo.

A escrita terapêutica - ato de colocar no papel emoções, pensamentos, vida real, desejos e medos - é uma técnica acessível para todos: basta um momento a sós, um caderno, uma caneta e muita vontade de esvaziar o peito do que tanto angustia. Escrever ajuda quem está sofrendo de ansiedade (os casos aumentaram em mais de 25% desde a pandemia), quem está em luto, quem está doente, desempregado e sem esperança de vida. Auxilia quem quer se conhecer a fundo e tem dificuldade para se abrir - a escrita é o ato de falar pela escrita e escutar pela leitura.

Querido diário. Quem vos escreve é do tempo em que meninas ganhavam diário, aquele com chave ou código; acredito ainda existir do mercado. O diário era o lugar para confidenciar tudo o que não podia ser revelado, pois era secreto. Ele foi o melhor amigo de muitas pessoas, pois recebia as palavras sem julgá-las ou questioná-las, algo muito necessário na puberdade. No caderninho tão delicado e cheio de adesivos e outros fru-frus, eu me tratava muito bem, desejava boa noite e bom dia para mim mesma. Era o meu confessionário e o início do meu autocuidado. Passado alguns anos, já na adolescência, o diário deu lugar a famosa agenda, trocada ano após ano, onde era guardado desde papéis de bala até cartinhas recebidas - um reino de fantasia onde eu era eu mesma, na minha fantasia. Quem está na casa dos quarenta cresceu com a escrita terapêutica, embora não tivesse ideia desse nome. Sabia mesmo que era um local seguro para liberar as emoções e pensamentos e não ser repreendido.

O início da escrita sobre si mesmo data de antes do Cristianismo; como técnica terapêutica o responsável foi o psicólogo James W. Pennebaker, que conduziu estudos nos anos oitenta e percebeu diferença em quem praticava a escrita terapêutica. Hoje, embora difundida nas redes sociais, a técnica terapêutica anda em paralelo com o acompanhamento profissional para resultados concretos.

Benefícios. O maior benefício de escrever sobre si é conhecer-se: o papel aceita tudo, inclusive as verdades e mentiras que se esconde dentro da alma, pelo receio de julgamento. Por vezes, os pensamentos estão confusos e geram ansiedade, desespero e medo, e quando esses pensamentos são colocados no papel fica mais fácil entender o que está se passando com as emoções. O importante é não travar as memórias e os pensamentos e deixar vir, livremente. Pode vir traumas, angústias, decepções e felicidade. A escrita terapêutica é por você e para você.

Seu mundo num caderno. Escolha um caderno com uma capa que lhe agrade, ele é seu, só seu. Tenha um tempo a sós para escrever, uma caneta e um lápis, se desejar. Passe um tempo meditando antes de escrever e depois solte tudo que está preso no papel - ele não te julgará, tenha certeza. Faça desse momento uma constância - não se abandone. A escrita à mão se tornou rara nos dias de hoje e escrever, além de treinar a escrita (esqueça normas gramaticais, ortografia e coerência), deixa a pessoa focada.

Exercícios. Os exercícios são somente ideias de como usar a ferramenta para se conhecer - você pode criar as suas formas de se expressar, o importante é estar confortável.

Escolha um tema ou uma questão que te incomoda e escreva sobre. As listas auxiliam a entender melhor algumas questões: liste o que te faz bem, o que te machuca. Faça uma lista com as gratidões da sua vida. Uma lista com as pessoas importantes pra você. Faça uma lista com suas qualidades. E defeitos também. Mas seja leve, não precisa se torturar - a vida é melhor vivida com leveza.

Outro bom exercício é escrever uma carta para pessoas que você gostaria de dizer umas coisas, mas você não tem coragem. Ou ainda uma carta de perdão a quem você acha que precisa pedir. Escreva uma carta para seu amor. Escreva uma carta para si. Nenhuma delas será entregue, ou quem sabe um dia. Elas são suas, só pertence a si mesmo. Lembre em quantos filmes existem cartas antigas que não foram entregues - elas guardam segredos íntimos que o tempo não apaga.

A escrita auxiliando pessoas ansiosas. Se você sofre de ansiedade, tente colocar no papel o que está sentindo quando a crise vier - respire profundamente, e assim que conseguir, escreva o que está sentindo naquele momento. Nessa escrita você perceberá os gatilhos que te levam a ansiedade.

A escrita terapêutica ajuda e muito, mas é melhor absorvida se acompanhada por um profissional.

Redação:

Silvia Delforno, psicanalista.

"Ajudando você a viver de forma mais leve, com mais plenitude e realizações".

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