Minha mãe sempre diz que sua filha caçula é a mais inteligente, porque o último mês de gestação dela aconteceu na Quaresma, período em que comeu bastante peixe.
Todos sabem que a Quaresma é uma tradição observada por algumas igrejas cristãs – como a Católica, a Ortodoxa, a Anglicana e a Luterana –, como um período de preparação para a principal celebração do cristianismo, a ressurreição de Jesus, que é comemorada no domingo de Páscoa.
São quarenta dias de preparo, como tempo de penitência e renovação interior por meio de orações, jejum e da abstinência de carne vermelha.
Mas por que abstinência da carne vermelha?
Porque na Idade Média, época em que essa tradição se consolidou, a carne vermelha era consumida só em banquetes, nas cortes e nas residências dos nobres. Ela tornou-se, então, símbolo de gula, associado ao pecado. Sendo assim, a Igreja orientava os fiéis a comerem carne à vontade antes da Quaresma – o que deu origem aos banquetes chamados “carnevale” e ao nosso carnaval – e depois se absterem de carne durante os 40 dias que antecediam a Páscoa.
Com o passar dos séculos, a carne vermelha perdeu seu caráter simbólico de pecado. A orientação atual da Igreja Católica apenas aconselha a abstinência de carne vermelha como gesto de conversão, e não só na Quaresma, também na Quarta-Feira de Cinzas, na Sexta-Feira Santa, e em todas as sextas-feiras do ano.
E pessoas enfermas, idosas e crianças são isentas dessa orientação.
E por que a substituição pelo peixe?
Porque o peixe não chegou a entrar na lista da abstinência; era irrelevante como alimento nos banquetes medievais. A partir daí, generalizou-se o costume de, na Quaresma, substituir a carne vermelha pela carne de peixe.
Por isso é que minha mãe, que segue a tradições católicas, aumentou seu consumo de peixe durante a Quaresma em que gerava minha irmã, aliás como sempre fez e ainda faz.
Mas será que a gestante que come bastante peixe torna a filha ou o filho mais inteligente?
Por razões que o leitor por certo entenderá, eu, que não fui gerada à base de peixe, fui pesquisar essa crença de minha mãe.
Tudo começou por volta de 1830. Quando soube que o cérebro continha fósforo, o físico alemão Friedrich Büchner declarou que “sem fósforo não há pensamento”; daí, o cientista francês Jean Dumas confirmou que o peixe é riquíssimo em fósforo e fez a associação de ideias, que se disseminou pela cultura popular.
Além do fósforo, alguns estudos atuais têm demonstrado que o ômega-3, a gordura encontrada nos peixes, influencia o desempenho cognitivo da pessoa, pois estimula a produção de novos neurônios, participando do desenvolvimento e da manutenção do sistema nervoso, e também funciona como matéria-prima para a produção de substâncias que protegem o cérebro.
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Resumindo, o peixe é um excelente substituto da carne vermelha e contribui para formar e manter um raciocínio ágil e uma ótima memória.
Então, aproveite a Quaresma e a Semana Santa para acrescentar algumas porções de peixe na sua dieta.
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