COMO ERA O BRASIL NA ÉPOCA
Na década de 1900, início do século XX, o Brasil vivia a época da Primeira República, iniciada na Proclamação, em 1889. A população se adaptava a intensas transformações políticas e econômicas, marcadas por diversas revoltas internas e, sobretudo, por um processo de abertura para o comércio externo.
Grandes extensões de terra com apenas algumas áreas produtivas, os latifúndios, estavam nas mãos dos chamados coronéis, nome de uma patente da Guarda Nacional que passou a ser usado para designar os fazendeiros mais ricos e poderosos de uma região.
A população era composta, de um modo geral, por uma elite de forte poder econômico, constituída por coronéis e comerciantes, por uma classe média urbana, formada por profissionais liberais, intelectuais e políticos, e pelos trabalhadores rurais.
Até então, o brasileiro consumia, em grandes quantidades, a farinha de mandioca e o biju, apesar de já conhecer o pão de trigo desde a chegada dos colonizadores portugueses. No início do século XX, a atividade de panificação se expandiu, motivada pela vinda dos italianos para o Brasil, e o pão tornou-se essencial na mesa do brasileiro. Mas era completamente diferente do atual pão francês; era escuro, na casca e no miolo.
Com a abertura econômica e financeira para o comércio externo, o Brasil da Primeira República tornava-se um mercado altamente consumidor dos produtos de países estrangeiros que precisavam desovar seu excesso de produção industrial.
Juntamente com os produtos estrangeiros, o Brasil passou a importar, também, ideias e costumes, em especial tudo o que estava em voga no movimento cultural da Belle Époque.
A CULTURA DA BELLE ÉPOQUE
Na Europa do início da década de 1910, ainda se vivia o clima de desenvolvimento industrial, prosperidade econômica e otimismo da Belle Époque, iniciado no final do século anterior. Perdurou até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, quando as notáveis invenções desse período passaram a ser utilizadas como tecnologia de armamento.
A Belle Époque foi uma época marcada por grandes inovações tecnológicas, como o telefone, o telégrafo sem fio, o cinema, a bicicleta, o automóvel e o avião, que inspiraram novas percepções da realidade e profundas transformações culturais. Tornaram a vida das pessoas mais fácil em todos os níveis sociais e geraram novos modos de viver o cotidiano.
O cenário cultural efervesceu, com a proliferação de teatros, cinemas e exposições.
A moda, para as mulheres, cobria todas as partes do corpo com babados, plissados, bordados, luvas e chapéus. Os espartilhos, que antes definiam a silhueta em “ideais 40 cm”, nessa época foram substituídos por suaves drapeados. Para o homem, a moda exigia um estilo mais sóbrio. Mantinha o uso de chapéu, polainas e casaca, mas o uso de paletó começou a aparecer com força crescente, e as calças ficaram cada vez mais estreitas e curtas. Barbear o rosto tornou-se uma tendência, assim como o uso do chapéu de feltro de copa gebada e do chapéu-panamá.
Cafés e confeitarias foram eleitos ponto de encontro de intelectuais e artistas, favorecendo a difusão de novos modos de pensar. O desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte disseminou a arte e a cultura da Belle Époque, aproximando as principais cidades do planeta. Escritores, como Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Zola, Anatole France e Balzac, passaram a ser lidos avidamente. Pintores, como Picasso, Modigliani e Matisse revolucionaram as artes no mundo.
As pessoas de maior poder econômico ostentavam elegância e luxo em grandes bailes, festas, jantares. E a gastronomia passou a fazer parte de suas diversões noturnas.
Nos restaurantes, jantava-se entre paredes de mogno e cobre, recortadas por vitrais e sob tetos cheios de dourados, afrescos e lustres, uma decoração para deleite do olhar.
O estilo culinário passou a ser definido com o rótulo "Comer com os olhos". Os grandes chefs, cujos ancestrais haviam cozinhado para os palácios da nobreza, criaram o sistema de servir à la carte. Então, passaram a oferecer opções de pratos predefinidos pela casa e em cardápios ricamente ilustrados, que demonstravam a expertise do chef e o glamour do restaurante.
Paris transformou-se na grande estrela da Belle Époque e a capital da culinária.
Um pãozinho que lá se fabricava, curto, cilíndrico, com miolo branco e casca dourada, crocante, tornou-se um mito!
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