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ENTREVISTA COM 

SHEILA VERVOLET

Publicada em 07/05/2013


Ela foi diretora por mais de 07 anos do Circo Art Brasil, está focada em produção cultural, desenvolveu com sucesso o Projeto “Por um mundo melhor“, que leva oficinas de arte á crianças especiais. Sheila Vervolet, é nossa convidada desta semana, para dar seu depoimento à coluna de Arte e Cultura, e prova que quem faz Arte só pode fazer o bem.

Sheila fiz uma pesquisa, temos uma criança chamada Alex Rodrigues, criança especial, que com cinco anos, ficou encantada com os muros grafitados da escola que ela estudava. Por conta disso ela começou a colorir papéis. Tempos depois com a ajuda de um psicólogo, passou a fazer uma espécie de diário da vida dela com desenhos. Depois de algum tempo, ela começou a falar, escrever, começou a cuidar da aparência e se tornou mais participativa. Existe também uma fundação em São Paulo, que desenvolve um trabalho de artes plásticas para cadeirados e especiais da visão que são excelentes músicos.

Como foi a sua iniciativa de levar arte para crianças especiais?

Eu criei o Projeto “Por um mundo melhor“ em 2005, por sempre acreditar que as crianças especiais precisavam de mais arte na vida deles, de estímulo. Então apresentei primeiro o projeto para a APAE de São Caetano do Sul, eles adoraram o projeto, porém, eles não tinham quem patrocinasse. Tempos depois, retomei o projeto através do PROAC e ele aconteceu. A ideia do projeto não é formarmos profissionais do circo ou do teatro, e sim que através da criatividade sua autoestima seja melhorada, também sua autoconfiança e sua capacidade de trabalhar em grupo. Com o retorno do projeto desenvolvido nas diversas APAES do interior do Estado de São Paulo, vimos que não estávamos errados.

Em 2005 você convidou um garoto paraplégico para fazer parte da sua trupe de circo. Como foi essa história?

Emocionante, estávamos divulgando um espetáculo em meu circo, entreguei um "flyer” a uma senhora e ela disse que não poderia ir, por que o filho era cadeirante. Na época eu tinha um motorista no circo, e me ofereci para buscar ela e o filho dela. Ela consentiu, e depois do espetáculo, ele, o filho, disse quase em lágrimas que era palhaço. Daí o convidei para trabalhar comigo. Assim, além dele fazer parte da nossa equipe, passou também a desenvolver outras atividades, como animar festa escolar e retomou a carreira dele, mesmo em cadeiras de rodas.

Isso graças à iniciativa do seu trabalho e convite?

Sim, ele achava que pelo fato de ter sofrido um acidente e estar em uma cadeira de rodas, não poderia prosseguir sua carreira.

Outro membro de nossa equipe sofria de Parkinson e também desenvolveu um trabalho dentro do nosso circo por dois anos.

Por que você não fez um projeto facilitando o acesso dos especiais aos grandes espetáculos em cartaz?

Por que eu quero que eles façam arte e não sejam apenas espectadores. Uma vez um garoto que já estava maquiado e com o figurino, pronto para entrar em cena, me agradeceu e me disse que nem a mãe dele acreditava que ele poderia pisar em um palco. E disse mais: “Graças a você, eu sei que eu posso e não vou desistir”. Essa foi uma das maiores satisfações do meu projeto.


Você acredita então, que a partir de uma oficina, eles possam desenvolver um maior interesse pelas artes e produzir cada vez mais?

Meu projeto é um projeto de inclusão. Nós esperamos que a partir de uma atividade, que não precise ser exclusivamente arte, eles possam acreditar mais neles, conviver e produzir como qualquer um de nós. Eles têm de aprender a conviver com o “não” com o “sim”, eles devem ter o direito de dançar, namorar...

E o trabalho com os portadores de Síndrome de Down?

É a maioria e eu adoro lidar com eles.

Pesquisando sobre seus trabalhos, descobri uma grande curiosidade, sobre o bairro de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo. Essa região possui alto índice de crianças e adultos especiais, é isso mesmo?

Sim. Aliás, o primeiro projeto era para o bairro de Paraisópolis, só que não consegui patrocínio. O presidente da comunidade me chamou, me concedendo espaço, ele chegou a fazer um apelo a políticos, onde apresentamos uma pesquisa sobre o número de deficientes em Paraisópolis, mas infelizmente, o patrocínio não veio para a capital, veio para o interior do estado .

O trabalho de uma produtora executiva é árduo. Quais os principais obstáculos vencidos por você para realizar esse projeto?

São vários, como você deve suspeitar; pessoas que não acreditam nesse trabalho, patrocinadores que só focam nos grandes nomes e espetáculos, assim vamos cada vez mais nos aproximando das empresas que idealizam um objetivo social. Às vezes pelo fato do patrocinador ser local, nossa ação fica restrita a uma única região .

Por que você optou pela carreira de produtora cultural?

Bem, na verdade eu sou Biomédica (risos), mas sou apaixonada pelo circo. Resolvi fundar um circo, que esteve em atividade por sete anos. Tive de parar com o circo, por que descobri que não servia para cobrar ingressos.

Como?

Sim, eu não servia para cobrar ingressos. Crianças chegavam aos bandos, dizendo que não tinham dinheiro para comprar ingresso e eu acabava deixando entrar de graça (risos). Assim achei melhor desenvolver projetos que concedessem premiações ou apoio, que me dessem a oportunidade de não cobrar da população. Quero ser uma produtora sócio-cultural.

Realmente uma das reclamações da população é esta, que as grandes produções possuem grandes apoios e patrocínios de grandes empresas, mas mesmo assim continuam cobrando um preço bastante salgado pelos ingressos. Como é coordenar uma equipe que atende crianças especiais dentro do seu projeto?

As pessoas eu escolho a dedo. Nosso público é especial em muitos sentidos, tomam medicamentos. Quem compõe a equipe, fora a experiência com Circo, Teatro ou Música, devem saber lidar também com estes seres humanos. Como todo grupo, as divergências existem, mas todos estão desenvolvendo um excelente trabalho, pois as crianças estão aprendendo.

Qual a resposta da APAE e dos pais das crianças ao seu Projeto?

São APAES de três regiões: Jundiaí, Descalvado e Indaiatuba. Alguns eventos são realizados junto com os pais onde estes são convidados para fazer a oficina e interagir junto com os filhos. Os pais comprovam que os filhos mudaram de atitude depois de nosso trabalho.

Uma mensagem para os pais de crianças especiais:

Papais e Mamães, desde pequenos, concedam a essas crianças, a oportunidade de praticar atividades físicas, ecoterapia, dança, música, circo e teatro. Ah , também compre para elas, se possível um animalzinho, um cachorrinho, um gatinho, pois a criança quando cuida de outro ser dá mais valor á vida. Façam qualquer esforço por eles. No meu projeto tenho visto muitos resultados positivos.


Silvio Tadeu
Colunista de Arte e Cultura



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