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Publicado em 06/08/2018 Maria Alcina Traz o Espírito de Caetano Veloso em Música
Eu realmente lamento e muito, que cada vez tenhamos menos espaço para trabalhos assim, em meio a tantas Anittas e Safadões.
Acabo de ouvir o CD “Espírito de Tudo”, músicas de Caetano Veloso, na voz da veterana e sempre jovem Maria Alcina. Ao ganhar o Festival Internacional da Canção em 1.972, com Fio Maravilha de Jorge Ben Jor, o Brasil prestou atenção naquela cantora performática, exuberante e irresistível.
Daí, partir para outros sucessos, lotar shows e ficar conhecida internacionalmente foi uma questão de tempo. Mas falemos do CD. Sim, ainda existem CDs. E você pode desfrutar e ouvir uma obra musical e conceitual, manusear a capa, saber quem foram os músicos, produtores etc.
Sou do tempo dos discos de vinil e dos CDs; sou do tempo das boas músicas. Aqui no caso a produção ė de Thiago Marques Luiz e arranjos criados coletivamente, de forma deixar a voz da cantora, músicos e as composições de Caetano confortáveis para todos. Para falar a verdade a faixa de abertura, “Gênesis” não chega a impressionar. Ela traz a frase “espírito de tudo”, que se tornou título do trabalho e fez parte do disco “Cores e Nomes” do compositor baiano (1.982). E por um acaso é a que menos gosto neste disco.
A letra, muito questionadora e filosófica, não deixa a irreverência da intérprete brotar e soa forçada. Quando Alcina encontra o Caetano rebelde aí surge a faísca. E surge o incêndio. “Fora da Ordem”, arrepia.
O discurso de Cae é dado direto e reto! Maria Alcina não deixa por menos, deleita-se na guitarra de Rovilson Pascoal que faz a moldura exata para os graves e extensos vocalizes da cantora. Um soco no estômago!
Como Ney Mato Grosso, Maria Alcina destoava do visual “preto e branco" exigidos pela ditadura, exalando alegria em seu visual e canções, mas agora é ela quem afirma que o mundo está fora da ordem. Ironia.
Outra grande releitura é o hino “Tropicalia” que tem a voz do diretor de teatro José Celso Martinez Correa na introdução. Atordoante tanto interpretação como arranjos. E que tudo mais vá para o Inferno!
Mas ainda não! Vem aí um grande sucesso do disco “ Velô” de 1.984, “Língua", gravada em dueto com Elza Soares.
Ficou o desafio para Alcina fazê-la brilhar e sozinha.
Mas a música parece ter sido feita para ela!
A batida techno, letra irônica e os tamborins caem como uma luva para essa artista tão filha do tropicalismo da qual Caetano Veloso foi o mentor ao lado de Gilberto Gil.
Ao ver que “Estrangeiro" fazia parte do disco confesso, fiquei preocupado. A letra é longa, não possui refrão, mas Alcina consegue trazer o clima misterioso e faz uma interpretação sincera. A música faz parte do disco homônimo de 1988, com show histórico, que marcou muito a carreira de Caetano Veloso. Merecia uma releitura!
Restam ainda dois rocks “Rock’n’Raul” e “Rocks”, uma interessante salsa “A Cor Amarela”, e duas lembranças saudosas "Os Mais Doces Bárbaros” e “ A Voz do Morto”.
Enfim, como artista, Maria Alcina continua seu trabalho transformador e desta vez, “Caetanando” o que há de bom!
Disco: “Espírito de Tudo” Artista: Maria Alcina Gravadora: Eldorado Preço Médio: R$ 22,90 |
Silvio Tadeu Colunista de Arte e Cultura www.silviotadeu.blogspot.com.br
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